Ciclo/Monologo de Três Atos

Publiquei esse poema 22/12/2014 no site Recanto das letras, me lembro do dia que escrevi. Já passaram por um dia esquisito que nada parece que nada vai acontecer, mas o ar; o tempo; a luz; até os passos das pessoas na rua parecem prenunciar algo?
Então…
Foi um divisor de águas em minha vida! Na época não compreendi, mas hoje sei que fez toda diferença!

Uma vez soterrado por uma avalanche não culpe a neve, vamos convir que talvez a causa do desastre tenha sido gritar aos pés de uma montanha cheia de neve.

 

O Ciclo / monólogo de 3 Atos

introdução:

Sim… Era fervente, um caldeirão mantendo aquecidos os vícios
Uma grande sopa de letras em desuso!
Sim…Era uma Terra fértil, onde prosperava a erva daninha
onde feliz era o escaravelho, uma vez dentro da rosa, ali morria e matava seu amor!
Sim, era a dança inurbana entre o gozo e a dor…
Sim… Era saboroso; há quem, aos olhos de todos, comia o indecoroso
O Corajoso se diferenciava do medroso que escondia pedaços de carne no bolso…
E o cordeiro morria levando para o túmulo a fome do lobo…

Sim… Era divertido, forte e perfumado, uma vinho “safrado”
porém velho no carvalho…Todos se embriagaram…
E esse é o começo de um espetáculo que parece ter começado em uma festa
mas entre panos e figurinos embolorados, os atores, maltratados
dormiam o sono dos cansados…
E o começo do primeiro ato é só o meio do fim que agora declaro!

1° Ato/ A dança…


Mandrião – Óh! Estrela mor que me guia no clarão da lua
Donde vem o som do bandolim e esse cheiro sórdido
De carne suada e nua?
Estrela da manhã- Oras!!! Erga-te do leito preguiçoso de teu embaraço!!!
Abra a janela e os braços, veja que é dia e saia de tua noite perene…
Olhe com teus olhos e veja… Vá em frente!

Mandrião – E lá vou eu deslizando em acasos de sobrenaturalidade
Uma caixa de segredo, uma serpente antiga na pele de uma ninfa repleta de vaidade!
Sem respeito, sem rodeio… Sem medo… Achei o caminho e entrei no festejo!
Assombrado desespero!
Nem Dionísio suportaria, Caligula esconderia de vergonha o rosto
Na festa o pão era sagrado e o vinho generoso…
Não era profano, era épico…Patético e hilariante!
Seres da energia elétrica apagavam luzes e acendiam velas
Eu, mandrião de mim mesmo, entrei e dancei… Inebriante, me fartei, mas tal como serpente, me vinguei…
Minha falsa inaptidão para expressar minha dança, acelerou a musica
damas e cavalheiros tropeçaram nas tabuas soltas do chão…
Sem me anunciar, me anunciei, e me tornei dono do salão…
E de fato eu era, mas também era mandrião… Todos fantoches sem controle
amarrei em meus dedos os cordões e me sentei no alto entre arrufos e matinada…
Do alto controle eu ria, mas por dentro, pobre de mim, chorava!

2° Ato/ O incomodo

Mandrião – O mundo já não era o mesmo…
As ressacas das noites de festa
não eram como as antigas ressacas
não havia amnésia…
Não me esquecia “daquela gente” odiosa
do perfume fúnebre e enjoado da Rosa
dos gritos e duelos
Nada, depois “deles” , conseguia ser belo…
Do que falavam e por quem falavam?
Quem, Por Deus, quem havia entregado a chave de meu Baú?
Como conseguiam brigar pelos meus sonhos e medos…
Abjetos do mundo real, quem era “aquela gente” pra falar de meus segredos?
– Cazzo!
Na minha frente quebrou-se o espelho, e eu me fiz em mil pedaços
Agarrei a primeira mão que esticou, fui embora, mas…
Um rei não cai sem que caia seu império, e em mil pedaços se desfez o salão!
Órfãos, os convivas, seguiam em busca de mais um cheiro, de um ínfimo som!
Enquanto isso eu apenas me permitia, dando meu “Pitaco”, mas aceitando a verdade que me sorria…
Reza a lenda que ainda procuram…
Não sei, mas essa é a tristeza do vício, ele não sara, só fica escondido…
Que viciado era eu, reles Mandrião, sem propósito de agradar aos deuses?
Era viciado em seguir “aquela gente” ou era apenas um suspiro como eles?
Seria a droga? Não, petulância a minha, a droga era a própria natureza humana
Como livrar-se da própria natureza em cair, deixando de voar por não ter asas?
Nunca saberei, e se souber, com certeza esquecerei, pois ninguém vence pelo o que já se fez…
Pense… Hoje, Alexandre, quantas Gaugamelas haveria de lutar para ser grande novamente?
Ninguém vive da glória do que passou, mas das possibilidades que o presente para o futuro desenha, desenhará, desenhou…

Ato final… O FiM do Ciclo

Na grande fraternidade desta quase falida constituição
Eu sentei em sala de aula, fui quadro negro e o giz
Fui a fome de saber do aluno e a preguiça do repetente
O sonho do professor e seu empenho…
Fui a força que caiu e a fraqueza que seguiu em frente…
Firme, impávido
Mas… Um olho no peixe e outro no gato!
Nas estradas da vida fui os pés apressados
E o arrastar cansado…
fui o viajante e fui seu rastro…
Nos céus antigos poeira cósmica da nova era, sim, eu Fui
Nos céus de hoje um olhar em busca do antigo astro!
Apressado, calmo, contemplador sempre a espera…
Fui o silêncio no grito do medo
O barulho na meditação do Yogui…Sim, eu fui…
Os degraus da escada de Jacó
Fui o anjo que caiu e o que voltou
o sábio que desfez o laço e o tolo que deu o nó…
Joguei-me do precipício, desviando das pedras encontrei o mar
Criança, homem, mulher, mago, seco, frio, vasto completo…Cálido…
Mergulhei!
De um dicionário fui todas as palavras e do calar fui a pressa que há
no eterno segundo que antecede um esperado beijo…
Fui portas escancaradas e da mesma porta o cadeado , a chave e o fecho!
Me precipitei nos braços de sonhadores artistas, pintaram meus sonhos
cantaram meu amor e recitaram meu mais íntimo segredo…
Me deram nomes… Conhecidos senhores da espada, anônimos semeando a terra…
Quem organizou desorganizou, quem perdeu é quem ganhou a guerra…
Sim eu fui… O tudo e o nada de que o amigo precisou
Mas hoje me despeço desta casca sugada e sem uma gota de vigor
para reconstruir o que de mim restou…

Thoreserc
22/12/2014

 

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